Wednesday, October 25, 2006

Inspirações?

Inspirações? E agora digam lá se o bebé do Süskind ( O perfume –História de um assassino) não é um clone do bebe da Alice in Wonderland? Excerto, Alice no País das Maravilhas LBolso.E-A ( pag 64 a 69) “A porta abria directamente para uma grande cozinha, que estava cheia de fumo de uma ponta à outra: ao meio estava a Duquesa, sentada num banco de três pés, a embalar um bébe; a cozinheira estava debruçada sobre o fogão, a remexer um caldeirão que parecia estar cheio de sopa. «Com certeza que aquela sopa tem pimenta de mais! », dizia Alice para consigo, o melhor que pôde, por estar sempre a espirrar. Havia com certeza pimenta de mais no ar…Até a Duquesa espirrava de vez em quando e o bebé ora espirrava ora berrava, sem descansar um momento. Os únicos seres na cozinha que não espirravam eram a criada e um grande gato que estava aninhado junto do fogão, a rir-se até às orelhas. -Por favor, digam-me - disse Alice, um pouco timidamente, pois não tinha bem a certeza se seria bem-educado da sua parte ser ela a falar primeiro porque é que o vosso gato se ri assim? -É porque é um gato de Cheshire!- disse a Duquesa . Porco! Disse esta última palavra com uma violência tão súbita que Alice quase deu um salto; mas viu logo que estava a falar para a criança, e não para ela….”…”Alice não gostou nada do tom desta observação e achou por bem mudar de assunto. Enquanto tentava decidir qual havia de ser, a cozinheira tirou do lume o caldeirão da sopa e pôs-se a atirar com tudo o que tinha ao seu alcance à Duquesa e ao bebé primeiro foram as tenazes e logo a seguir as frigideiras, as travessas e os pratos. A Duquesa não ligava importância nenhuma, mesmo quando a atingiam: e o bebé já estava a gritar tanto que era impossível dizer se ficara ou não magoado com aquilo tudo. Oh. Por favor! Vejam lá o que lhe estão a fazer! - gritou Alice, aos saltos para cima e para baixo, completamente espavorida! -Ai, que deram cabo do rico narizinho! Disse ela, ao ver uma frigideira enorme a voar tão perto dele que quase lhe arrancava o nariz Oh!, não me maces disse a Duquesa. Nunca gostei de números! E com estas palavras começou a embalar o bebé outra vez, enquanto lhe cantava uma espécie de canção de embalar e lhe dava um suficiente safanão no fim de cada verso: Ralha sem dó Ao teu miudinho, Se ele espirrar, Bate-lhe só Que o marotinho. Quer é arreliar Uah!Uah!Uah! -Toma lá! Se quiseres, podes embalá-lo um bocado disse a Duquesa a Alice, atirando-lhe o bebé enquanto falava.-“…. Alice apanhou o bebé com uma certa dificuldade, pois era uma criaturinha com uma forma muito estranha. Estava sempre a estender os braços e as pernas de um lado para outro,« como se fosse uma estrela do mar» pensava Alice. O pobrezinho, quando ela o agarrou, resfolgava como uma máquina a vapor e estava sempre a dobrar-se e a esticar-se todo, de tal maneira que durante os primeiros minutos teve um trabalhão para o segurar….” «Se eu não levar esta criança daqui para embora comigo», pensou Alice, «de certeza que vão dar cabo dela dentro de um dia ou dois; deixá-la aqui não será um crime?» Disse estas últimas palavras em voz alta, e a criaturinha respondeu com um grunhido (já tinha deixado de espirrar nessa altura). -Não grunhas disse-lhe Alice. - Isso não são maneiras de falar… O bebe grunhiu outra vez e ela olhou-lhe ansiosamente para a cara, a ver o que é que ele tinha. Não havia dúvida de que tinha um nariz muito arrebitado, que se parecia muito mais com um focinho do que com um verdadeiro nariz, os olhos também eram pequenos de mais para serem de um bebé: em resumo, o aspecto geral dele não estava a agradar mesmo nada a Alice. «Mas talvez ele estivesse só a soluçar, pensou ela, enquanto lhe observava outra vez os olhos, para ver se tinha lágrimas. Mas não, não tinham lágrimas. Se tu vais dar em porco, meu querido, disse Alice gravemente, não quero mais nada contigo! Agora vê lá bem! O pobrezinho pôs-se a chorar outra vez (ou então a grunhir era impossível de perceber) e, durante algum tempo, lá foram os dois em silêncio. Alice estava já a matutar para consigo: «Que é que eu hei-de fazer com esta criatura, ao chegarmos a casa?», quando o bebé se pôs outra vez a grunhir com tanta força que ela olhou de novo para a cara dele, muito preocupada. Desta vez não havia dúvida nenhuma: ele era nem mais nem menos do que um porco. Alice sentiu então que era completamente absurdo continuar com ele ao colo por mais tempo. Por isso depositou a criaturinha no chão e sentiu-se muito aliviada ao vela trotar calmamente pelo bosque fora.” Se ele tivesse crescido», continuou ela a falar sozinha, «dava uma criança terrivelmente feia: mas, como porco, é bem bonito…acho eu»